Muro que ficou

Muro que ficou
Berlin

Evolução da escultura

A escultura hoje é vista como expressão tradicional da linguagem artística - Parâmetros Curriculares Nacional - PCN
Será que esta forma de pensar é correta? Onde paramos que não vimos seu desdobramento?
Pensar a escultura só do ponto de vista tradicional é não pensar na sua evolução, é se manter na zona de conforto e apoiar no que já foi dito.
A História da Arte, principalmente a Contemporânea, vem nos mostrando mudanças consideráveis sobre o desenvolvimento da escultura.
Foi em: Conceptos fundamentales del lenguaje minha fonte.
 Aconselho o libro àqueles que desejam aprofundar no tema. Conceptos fundamentales Del lenguaje escultórico dos autores: Natía Martin, Elena Blanch Gonzales, Consuelo de La Cuadra González-Meneses, Pablo de Arriba Del Amo, José de las Casas Gomes, José Luis Gutiérrez Muñoz, libro editado pela Ediciones Akal - Bellas Artes, S.A. Madrid. 2006.

Linguagem escultórica: conceitos fundamentais.
São vários os elementos que fundamentam a escultura. Pretendo, aos poucos,  aborda-los aqui no blog.

Espaço
O conceito de espaço escultórico tem sido modificado ao longo da história em função dos avanços científicos das várias correntes filosóficas.
Síntese da evolução do conceito de espaço escultórico
Capítulo I - Elena Blanch Gonzáles

Período
Conceito de espaço
Cultura
Valor
Formas
Objetivo
Escultor Primitivo
Espaço subjetivo
O espaço exercia o papel de superioridade sobre o homem
Emocional e simbólico

Formas fechadas e pequenas
Ex. Venus de Willendorf, 25000 a.C.
Controlar parte do  espaço por meio das pequenas esculturas
Escultor
 Egípcio
Ligada a superfície plana, fechada e compacta
Sociedade radicalmente hierarquizada
Forte caráter simbólico
Figura de frente e os dois perfis, rígida e simétrica feita em um bloco com forma de um prisma e não, uma pedra bruta.
Poder, resultante da forma arredondada e por seus volumes
Escultor
 Grego
Supera a superfície do plano, porem, o espaço continua fechado
O humanismo alcançou seu esplendor, sendo o homem  o verdadeiro centro da terra
Valores lógicos e objetivos
Continua condicionado ao bloco fechado
Incorporar  o realismo e a lógica visual.

Idade
 Média
Retorno às tendências dos gregos e romanos.
Espacialidade
Hierárquica e subordinada com idéias religiosas

A escultura perde a independência e passa a fazer parte da arquitetura
Religioso, o “cristianismo” como o caminho da salvação.
Figuras simbólicas adaptando seu tamanho e forma aos espaços que permitem ocupar na arquitetura.
Integrar a arquitetura
Etapa
 Gótica
Recuperam o naturalismo. Busca da beleza ideal
Começa a recuperar o sentido próprio da escultura naturalista tendendo para o realismo 
Caráter narrativo
Continua a fazer parte da arquitetura
Buscar o sentido de realismo
Renasci-
mento
Volta ao espaço lógico e medido
O corpo humano se converte em objeto de estudo
Abandonam os valores supersticiosos e sobrenaturais
Escultura figurativa
Proporção e simetria como novos objetivos
Barroco
Inicia a abertura do espaço fechado e a projeção da forma para fora
Triunfo do movimento e o fim do equilíbrio e a serenidade
Dramáticos
Liberam da simetria e os braços e mãos da escultura se abrem tentando alcançar o espaço exterior.
Formas retorcidas
Convite ao espectador para adentrar no espaço numa comunicação dinâmica.
Neoclassicismo
Freia a abertura criada pelos escultores barrocos
Desenvolvimento da arqueologia de um lado e por outro as teorias de contenção das expressões.
Volta a expressar as emoções
Formas com movimentos mais intensos e dramáticos em composições complexas e agitadas
Voltar a fazer parte d a arquitetura
Impressionistas
Empregam na escultura recursos da pintura como a cor, tratamento de luzes e sombra

Rodin cria espaços escultóricos  com fortes contrastes de luz e sombra criados por meio de superfícies e volumes


Inicia o caminho da abstração
Forma e modelos acrescentando bases às esculturas expressionistas e cubistas
Revolução no modo de conceber o espaço da escultura

Expressionistas
Espaços distorcidos e estilizados
Início da abertura da forma
Valor subjetivo 
Rompe com as formas fechadas e os estilos do passado
Captar as emoções dos artistas


Espaço interior e espaço exterior
Uma das inquietudes dos artistas do século XX foi a de liberar a escultura da forma fechada e pesada com a intenção de permitir a visibilidade do interior mostrando espaços antes inacessíveis, rompendo com os limites tradicionais. Os cubistas foram os precursores. Com eles o interior se converte em novo exterior e a concavidade e convexidade tendem ao equilíbrio. Jogam com as transparências, utilizam linhas e planos, substituindo as formas sólidas. Rompem com os modos e as leis anteriores e desenvolvem uma forma esquemática, ainda assim apóiam na figuração.
Os construtivistas avançaram nas mesmas idéias desenvolvidas pelos cubistas, porém abandonaram toda referência figurativa.
Outro grupo de escultores, partindo da herança dos artistas cubistas e construtivistas reclama uma maior participação por parte do espectador. Os artistas do minimal arte de forma ativa romperam os limites da escultura, desprezando o centro da obra. Os minimalistas defendem o reencontro com as estruturas primárias, eliminando todos os acessórios, em busca da ordem e a clareza estética. Para eles o espaço é mais importante, já que é configurador da própria obra. A escultura ocupa um espaço que, por sua vez, é parte da obra. Estes artistas incorporaram a figura do módulo no campo da escultura formando parte de uma estrutura geométrica, fabricada geralmente de maneira industrial com elementos pré- fabricados que se repetem a intervalos constantes.
O tamanho da obra foi uma preocupação destes escultores, já que esta influi na percepção da mesma e em relação ao espectador.
Escultura habitada
O passo posterior foi a construção de esculturas habitáveis, seja física ou mental. As fronteiras entre a arquitetura e a escultura foram quebradas. São obras que criam uma relação diferente entre o espectador já que o acolhe ou podem acolher.
Um dos arquitetos que revolucionou, no campo da arquitetura, jogando com os volumes arquitetônicos com a finalidade de fazer uma escultura habitável foi Charles Edouard Jeanneret. Le Corbusier com sua obra Notre-Dame-du-Haut, 1951 (em Ronchamp) abriu caminho a um novo campo: a escultura arquitetônica.
Ruptura de limites. Conquistas de novos espaços: Arte e natureza
Artistas buscam a unidade entre arte e natureza em espaços onde não há distinção nem sentido entre público e o privado. Algumas obras não deixam marca na paisagem ao seu redor, outras modificam tangivelmente.
A localização da obra adquire grande importância, contribui diretamente com o resultado final por fazer parte do produto escultórico. É um território específico e escolhido onde o escultor organiza e relaciona a escultura com o ambiente buscando a integração e harmonia, atendendo as características físicas, culturais e construtivas do lugar.
A união que estabelece entre natureza e escultura desenvolve um intercâmbio entre ambas. Muitas destas obras são inspiradas nos territórios sagrados e das construções neolíticas como Stonehenge, usando dos mesmos traços  elementares e simples, expressando assim, reflexões profundas, essenciais, sobre o homem e a natureza.
Hoje, mais do que nunca há necessidade que aceitemos o convite destas esculturas de chegarmos a esses lugares e que conectemos intimamente com a essência da natureza, como faziam nossos antepassados, para  chegar a uma harmonia e união com a natureza.  São peças que tem o poder de desenvolver nossa sensibilidade, quem sabe esquecida.
A localização destes espaços e sua categorização como produtos de criação fez surgir um novo problema para os artistas, já que muito pouca gente pode observar estas obras diretamente por estarem fora do circuito comercial.
A fotografia, os desenhos, mapas e vídeos solucionaram este problema. Desse modo, a documentação obtida adota a função de chegar a um grande número de pessoas, evitando os inconvenientes traslados para chegar às intervenções. Surge aí uma contradição com o espírito primitivo destes artistas que reclamam dos espaços privados apresentarem suas obras, já que não mostra só os registros visuais da obra como expõem também elementos (non site) deixados em lugares, tal como pedras, conchas, areia, materiais retirados do lugar original (site) e se cria uma relação entre ambos os elementos, entre presença e ausência. Sua mensagem dirige, de certa maneira, o pensamento de grandeza da natureza e o efeito danoso que produzimos.
Desde modo, o papel do escultor muda ao abandonar seu papel artesanal e converter em um panificador e diretor de uma obra. Deve realizar trabalhos de gestão e duras negociações para poder levar a cabo seus projetos. Necessita do auxilio de pessoas especializadas e maquinários adequados. Obras com custos milionários, cuja existência se limita a curtos períodos da vida.
Espaço real e espaço virtual - Dimensão espaço-temporal   
Ao falar de espaço, inevitavelmente falamos do tempo e, por sua vez, do movimento.
A relação de tempo estabelece de maneira explícita através da volta que temos que realizar para percebermos a obra escultórica. Esta que envolve o espectador e instiga a mover-se em seu entorno. É por meio desses movimentos entorno da obra que estabelece o tempo da visão.
Como exemplo, o trabalho Observatory, realizado por Robert Morris em 1971, inspirado em construções arcaicas como Stonehenge o Averbury. Quando se chega ao centro da praça, o visitante aprecia uma acústica extraordinária, já que se pode ouvir um eco inclusive mais forte que o som original. O objetivo de Morris era criar “simplesmente” uma obra de arte com a intenção de experimentar o sentido do espaço ao caminhar por ela.
Alexander Calder definiu um novo conceito de escultura sem massa que se expande pelo espaço incorporando o movimento e o tempo real. Suas delicadas peças, com um incrível equilíbrio dinâmico, oscilam elegantemente com as suaves correntes de ar e com pequenos motores elétricos.
A rotação do motor permite que se criem novas formas a partir de um único elemento que muda graças à variação de posição. “Renunciamos o desencanto artístico enraizado há vários séculos, segundo o qual os ritmos estéticos são os únicos elementos das artes plásticas. Afirmamos que nesta arte está o novo elemento de ritmos cinéticos enquanto formas bacilar de nossas percepções”. Nasce assim uma nova escultura que surge por um tempo determinado.
Espaço Vazio
Mostrar o vazio ou o nada na realidade não é algo novo; já em 1957, o artista Frances Yves Klein realizou sua obra, Estado da matéria prima da sensibilidade pictórica estabilizada, conhecida popularmente como El Vacio, que consistia em um espaço (a galeria de arte) totalmente vazio com as paredes pintadas de branco.
Nos anos sessenta, os artistas minimalistas continuaram trabalhando com espaços vazios que transformavam mediante a luz. A utilização de tubos de neón permitia a estruturação do espaço e sua limitação. 
São obras que mostram o vazio, o silêncio. São obras mudas em que o vazio, o silêncio, o desaparecimento são os materiais da própria obra. “esculturas da ausência”.
Outro modo de entender o vazio é encontrado na idéia de ocultação; mediante ao aparente esvaziamento de conteúdos. O artista provoca novas reações no observador, oculta o que queremos ver causando desconcerto ao espectador, habituado em ver toda obra. Sua reação expressa indiferença e indignação diante das dificuldades.
Transformação do espaço escultórico
Em 1969, Gilbert y George decidiram transformarem-se em esculturas viventes. Em uma das salas da Sonnabend Gallery, subiram em uma mesa, elegantemente vestidos, com suas mãos e caras pintadas, imitando uma escultura de bronze, movendo-se uma ou outra vez com gestos preciosa ao som de uma velha canção Underneath the Arches (sobre a vida dos vagabundos londrinenses que dormem debaixo dos arcos de uma ponte), composta por Flanagan y Allen em 1932.
Logo após, e no mesmo sentido, a artista francesa Orlan, deu mais um passo. Inconformada de ser só escultora se transforma na própria escultura.
Em 1990, submeteu a várias cirurgias plásticas com o objetivo de plasmar em sua pele ícones da própria cultura em seu corpo. Converte as operações em espetáculos de grande impacto mediático, ao ser publicado e em ocasiões, televisionado ao vivo. Incorporou na sua fisionomia elementos como o nariz de Diana (Fontainebleau), a barba da Venus (El nacimiento de Venus) de Botticelli, a boca de Europa (Boucher), os olhos de Psyche (Gerome), a frente de Mona Liza, de Leonardo da Vinci.       
Após as arriscadas apostas de Orlan, as novas tecnologias oferecem uma participação nas obras, por parte do espectador, sem precedentes na história da arte. Uma participação ativa, não mais como observador passivo, mas como co-autor da obra. Esta possibilidade veio junto com o espaço virtual, que cada vez se faz mais extenso graças à aplicação da tecnologia digital.
Para um diagnóstico temos como exemplo a obra de Eduardo Kac, Rara Avis, criada em 1996 e apresentada no Nexus Contemporary Art Center, como motivo os jogos olímpicos de Atlanta (USA).
Trata-se de uma instalação interativa de tele presença em rede formada por:
Um enorme viveiro com 30 pássaros vivos.
Uma grande arara tropical, denominada Macowl, sobre um galho.
Um capacete de realidade virtual.
Macowl é um telerrobô, com a capacidade de mover a cabeça e cuja visão está construída por duas minicâmeras. O espectador ao colocar o capacete se tele transporta virtualmente, pelo interior do viveiro e quando o espectador movia sua cabeça, a arara telerrobótica se movia também.
Aqui, o espaço real e virtual se confunde. Outros participantes remotos, através da rede, gerenciavam a obra, modificando-a por meio de Macowl. O espaço gera, por sua vez o espaço virtual que multiplica as possibilidades de aparição de uma peça, eliminando suas referências de extensão e direção, mudando drasticamente a relação estabelecida com ela independente da olhada do espectador, do lugar que ocupa seu corpo e dá ao participante uma capacidade de diálogo com a obra, ao assumir a experiência pessoal da mesma. Ser a própria escultura. Ser outro.

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